Respirava… Embora insistisse em fazê-lo (talvez apenas pela natureza da sobrevivência), o ar parecia apenas passar superficialmente por seus pulmões, como se o sangue já não transportasse mais o oxigênio através do seu corpo. E quanto mais se esforçava para respirar fundo, mais era acometida por uma ânsia que parecia dar um nó em sua garganta impedindo que o ar passasse. Até que lágrimas corriam por sua face num turbilhão implacável. Não queria chorar, mas as lágrimas eram como ópio para sua alma. E assim ela o fazia... Sentava-se abraçando as pernas, escondendo o rosto entre os joelhos... Gemia de dor... De dentro para fora... E depois, a atmosfera já estava tão inebriante que lhe doía de fora para dentro.
As paredes lamentavam seu sofrimento na escuridão de seu quarto relativamente organizado. Embora o ambiente nunca estivesse verdadeiramente bagunçado, sempre havia alguma coisa fora do lugar. Mas ela não podia conviver com determinadas imperfeições por muito tempo. Mais cedo ou mais...cedo, tudo voltava ao seu devido lugar. Assim como já estava pronto para ser deslocado novamente. Ela sentia como se tudo tendesse à desordem. As coisas acontecem em uma maré constante de desordem. E ponderando tais questões, concluiu que a vida não é uma caixa de surpresas. É um palco para piadas de humor negro. Afinal de contas, não deixava de ser uma piada o fato de ela passar tão rapidamente de um estado de desespero a um frio e lógico. Talvez nem tudo tendesse à desordem, afinal.