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Saturday, February 28, 2009

Always the Hours.

"Pende o tempo, do mastro. Rígido, somente o esqueleto do hábito sustenta a forma humana."Virginia Woolf.

Por que eu vim postar se eu não sabia o que escrever? Por que eu vim postar se eu não queria, precisamente, escrever? Por que choro se não sei, exatamente, o porquê?
Acabei de acordar... 8:16 da manhã.
Talvez não seja tão difícil entender o que pode estar acontecendo. Não, não é. Mas eu não posso admitir. Não posso aceitar. Devo me levantar e ir às compras. Yogurt, Pão, Chá...
As únicas coisas que me prendiam ao presente... Seh(sempre), Luma(durante alguns minutos enquanto deitava-se comigo no chão), Layla(quando estava alí) parecem ter sido arrancadas de mim. Mais de uma vez. Sem esses três por perto, principalmente o Seh,e eu já não sabendo mais como usurfruir dos privilégios daquele velho entorpecimento, me sinto confusa. Desorientada. Como alguém que saiu de campos floridos à luz do sol de primavera e foi jogado em um quarto escuro e abafado. Os objetos são disformes; os cheiros, indescifráveis; as cores, todas sugadas pelo negro. Nada se reflete. Solitário e silencioso.
Mas eu devo ir às compras. Queijo, Biscoito, Suco...
Eu não esqueci para quê vim. Para que abandonei meu aconchegante lar e minha família. Pelo futuro. Como sempre vivi mais no futuro do que em mim mesma. E não vivi. E quando vivi, foi a vida de outros. Vidas inventadas, vidas de personagens. Vidas verossímias.
Lembro-me que não gostava tanto de brincar sozinha quando era criança. Ficava triste. Mas com o tempo, eu percebi que não podia fazer muito para mudar a situação. Ou pelo menos eu acreditei nisso. Enfim, aprendi a gostar de estar sozinha. Mas isso não se comprovou de todo verdade. Às vezes me pegava lamentando estar num quarto vazio e escuro. Depois ele veio e me levou até às flores. E então eu percebi o quão difícil seria voltar para aquele quarto. Mas eu precisava continuar pensando no futuro. Não sabia viver de outro jeito.

“Não se pode ter paz evitando a vida.” Virginia Woolf.

Cá estou, então. Trancada num quarto escuro, desenhando campos floridos com giz de cera, esperando vê-los no futuro. E esperando lá permanecer.
Agora estou ficando com fome. As formigas comeram meu último biscoito. Este foi ele quem me deu...Enquanto ele segurou a minha mão e me levou para passear entre as flores por cinco lindos dias. Mas ele tinha de partir e eu tinha de voltar para o quarto escuro. E cheio de formigas. Então devo ir às compras. Maçã, Ameixa, Açúcar...

“Pense como seria maravilhoso não importar mais. Pense como poderia ser maravilhoso não ter de se preocupar mais, nem lutar, ou fracassar.”Virginia Woolf.

Virginia Woolf era uma romancista inglesa, bipolar, lésbica... E que encheu os bolsos com pedras e entrou num rio. E disse em sua carta a seu marido: “Encarar a vida de frente. Encarar sempre a vida de frente e conhecê-la como ela é. Enfim, conhecê-la. Amá-la pelo que ela é e depois, descartá-la.”
Se não tivesse esquecido Mrs.Dalloway em Aracaju, estaria a lê-lo pela quarta vez agora. Lamento profundamento não tê-lo trazido comigo. Mas isso não importa agora, pois devo ir às compras. Comprar congelados.

“Nesse momento, poderia muito bem não ser nada além de uma inteligência flutuante; nem mesmo um cérebro dentro de um crânio, apenas uma presença que percebe, como um fantasma."

2 comments:

Anonymous said...

Enquanto desprezava o futuro para viver o presente, sabendo que poderia resolvê-lo de forma tão... simples, v. pensava nele.

Enquanto preferia estar só, pois acreditava que eu me sairia melhor assim, v. não gostava de brincar só.

Talvez haja um ponto nessa linha de tempo de presente e futuro.

Talvez haja intervalos de estarmos juntos e distantes.

No fim, porém, haverá o momento e o espaço ideal.

Te amo!

Lay said...

Ra, eu te amo! ^^
Sim sim, tens toda razão! E que emocionante texto escrevestes! Muito me agradou lê-lo, estou emocionada ^^. Adorei as frases de Virginia Woolf.
Puxa, você nos verá sim; futuramente ^^.
Fique bem e boas compras. o/